terça-feira, 26 de agosto de 2008

Por que gostamos de música?

Pesquisa inédita dá uma visão inteiramente nova da nossa vida musical. Meio milhão de pessoas foram ao delírio quando o grupo americano derap Black Eyed Peas cantou My Humps na festa de réveillon na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. A canção é sucesso entre os adolescentes etoca a toda hora nas rádios. Mesmo quem prefere outro tipo de música edetesta rap deixou-se envolver pelo ritmo. A questão aqui, na verdade,é mais abrangente: por que fazemos e gostamos de música? Esclarecedoras respostas a essa antiga questão podem ser encontradasno livro This Is Your Brain on Music (Esse É Seu Cérebro na Música), lançado no ano passado nos Estados Unidos. Seu autor, o neurocientista americano Daniel Levitin, da Universidade McGill, em Montreal, Canadá, comandou uma equipe que realizou exames de ressonância magnética nocérebro de treze pessoas enquanto elas ouviam música. O resultado dotrabalho é a mais detalhada descrição já obtida pela ciência da – para usar as palavras de Levitin – "refinada orquestração entre várias regiões do cérebro" envolvidas na "coreografia musical. Algumas descobertas feitas pelos pesquisadores estão dentro do esperado. Por exemplo, um bom jantar, a música e uma noite de sexo ativam as mesmas regiões do cérebro associadas ao prazer e ao bem-estar – o que ajuda a explicar, afinal, por que esse trio de atividades se harmoniza tão bem. Por outro lado, a equipe de Levitin desvendou processos neurológicos que até então tinham escapado aos pesquisadores. Um dos mais surpreendentes é que a percepção musical não é resultado do trabalho de uma área específica do cérebro, como ocorre com muitas atividades, mas da colaboração simultânea de uma grande quantidade de sistemas neurológicos. Uma conclusão da pesquisa é que muito do que se imagina ser o som do mundo exterior ocorre na verdade dentro do cérebro. As moléculas de ar que fazem vibrar nossos tímpanos não têm em si as variações entre sons graves e agudos. Elas oscilam numa determinada freqüência que o cérebro mede; a partir disso, ele constrói uma representação interna com variações de tonalidade sonora. É similar ao que acontece com as ondas de luz, que são desprovidas de cor. É o cérebro e o olho que constroem as cores medindo a freqüência das ondas. Levitin nota que o cérebro não apenas produz uma representação interna do som, mas também lhe dá significado. No laboratório, o cientista percebeu que, quando as pessoas ouvem uma música da qual gostam – e não uma melodia desagradável ou um ruído qualquer –, uma área ativada é o cerebelo. Trata-se de uma grande surpresa científica. Em termos de evolução, trata-se de uma das partes mais antigas do cérebro, responsável pela coordenação motora, não envolvida com as emoções. Por que então só é ativada quando o ouvinte gosta da música? A resposta encontrada pelos cientistas é a seguinte: quando se ouve uma música, o ouvido envia o som não apenas para regiões especializadas do cérebro, mas também para o cerebelo, que se"sincroniza" com o ritmo da música, tornando possível acompanhar a melodia. Levitin diz que parte do prazer da música é o resultado de uma espécie de jogo de adivinhações: o cerebelo tenta prever a próxima batida. Se acerta, ótimo. Melhor ainda se é surpreendido por uma mudança no ritmo, pois o cerebelo parece ter prazer no processo desincronização. Produtor musical de sucesso antes de se tornar cientista, Levitin está à vontade para lidar com as duas faces da questão – neurociência e teoria musical. Mas, para decepção dos artistas, não foi capaz de localizar fisicamente o talento no cérebro. "Não existe um gene musical ou uma área no cérebro que os torna especiais", disse Levitin numa entrevista à revista Wired. "O talento de um músico se deve a umconjunto de uma dúzia de habilidades, como coordenação motora, bomouvido, boa voz e criatividade, e não a apenas um único dom." Isso é inesperado, pois os cientistas sabem que o processo de especialização numa atividade – no jogo de xadrez, por exemplo – provoca mudanças na estrutura cerebral e cria circuitos neurológicos especializados. A conclusão: é possível perder uma determinada habilidade e ainda assim manter a capacidade musical. Beethoven, por exemplo, que começou a ter problemas de audição aos 26 anos, continuou a compor mesmo depois de ficar inteiramente surdo, vinte anos depois. O estudo, entretanto, não conseguiu colocar um ponto final numaq uestão que intriga os cientistas há séculos: por que o ser humano começou a fazer música? Em A Descendência do Homem, publicado em 1871, Charles Darwin, pai da teoria da evolução, sustenta que as notas musicais e os ritmos foram desenvolvidos pela espécie humana com o objetivo de atrair o sexo oposto, assim como fazem alguns pássaros."Como ferramenta para ativar pensamentos específicos, a música não é tão boa quanto a linguagem", escreveu Levitin. "Mas, como ferramenta para suscitar sentimentos e emoções, a música é melhor que a linguagem." Não há cultura humana que não tenha produzido músicas. Estudos recentes mostram que os bebês começam a ouvir e a memorizar melodias ainda no útero da mãe. Pequenos, eles preferem músicas da própria cultura. Na adolescência, escolhem o tipo específico de música de que vão se lembrar e que apreciarão pelo resto da vida. "Nessa fase, a tendência é se lembrar de coisas com alto componente emocional porque os neurotransmissores e a amígdala cerebral estão trabalhandoarduamente para ligar a memória a fatos importantes" , diz Daniel Levitin. É uma explicação de por que as músicas que foram hit nos anos 80 continuam a fazer sucesso entre os trintões.
Fonte: Rosana Zakabi - Revista Veja, edição 1990, de 10/01/07

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi amiguinha, vi que me escreveu sobre a internet mais barata, entendi sua preocupação, mas é assim, mesmo, rsrs... como vc mesma disse... afinal o correto é dar espaço e inserir a todos, mas sempre há um onus em crescer...

Adorei esse seu post, adoro neurociencia, tudo que se refere a mente... etc... o dom vem da alma... nao do cérebro...Nós budistas recitamos um mantra: nam myoho rengue kyo, e fizeram um estudo sobre as notas musicais do mantra que revelou grande harmonia, " a voz faz o trabalho do buda" palavras do buda, o som é importante, por isso cantamos o mantra e falamos sobre a vida, a forma de viver, a filosofia, etc...
a oraçao de sao francisco virou música, muito melhor né? ...vou escrever um post aqui? rsrs...

bjus amiguinha, e parabens, seu blog tem um bonito visual, singelo e de bom gosto!

Allyne Alves disse...

Querida, adorei o artigo!

Inteligentíssimo esse estudo...voce me fez relembrar de uma certa "sindrome" (que eu nao lembro o nome agora) que alguns genios da musica sofriam...onde só uma parte do cerebro, guardava as infromações (geralmente, musicais) e as outras coisas, eram facilmente esquecidas...

Li algo, ha algum tempo...vou pesquisar denovo e postar pra voce ler!

[Querida, como se faz um gif desses com html pra ser parceiro? Vou mudar um pouco a cara do meu blog e queria que ele pegasse pra valer, assim como o seu - vou postar um conteudo mais interessante, e queria fazer esse gif pra parceiro...é dificil?]

Beijos =)

றιkąeℓℓy Rocha disse...

Que poost grannde eeem

:)

Priimeiira veez akii,muuitoo liindo seu cantinho(pode ser chamdo se cantinho néah)Link aii...
http://12kaelly.blogspot.com/

Bjsssss

Mika

Alcione Torres disse...

Agora o Sarapatel de Coruja tem um banner animado. O estático ainda funciona. Fique à vontade para usar o que quiser.
Abs.

http://sarapateldecoruja.blogspot.com/

Allyne Alves disse...

Querida!!!!! Consegui fazer a caixinha...tem um "errinho" basico, mas eu to estudando e vou tirar...tem como voce linkar??

Beeijo =)

Melia Azedarach L. disse...

Gostei muito desse post.
E obrigado pelo comentário aquele dia, é voltei, estou ainda um pouco relapsa, mas voltei rs.
E parabêns também pelo aniversário de "amor".
Um grande beijo!